sexta-feira, 14 de março de 2008

O Céu longe ou perto?


O Céu cada vez mais longe

O Vaticano acaba de acrescentar mais seis ou sete pecados mortais à já longa lista de Gregório Magno. Ser santo nunca foi fácil. Mesmo assim, desde que o Papa Sisto V decidiu, como hoje se diria, centralizar a santidade, criando um sistema de avaliação de santos, já foram aprovados 2932. Num livro recente, intitulado “Como se faz um santo”, o cardeal Saraiva Martins, perfeito da congregação para as Causas dos Santos, explica o sistema de avaliação da santidade adoptado pelo Vaticano, que é ainda mais “científico” que todas as grelhas e quadros sinópticos “made in ISCTE” com que o ME pretende, entre nós, avaliar a santidade dos professores. Só que, se até aqui, para se ser santo titular não se podia ser guloso, preguiçoso, invejoso, avaro, orgulhoso, lascivo ou iracundo, a partir de agora passa a ser preciso, além disso, entre outras condições, não causar danos ambientais, não criar desigualdades sociais e não acumular riquezas excessivas. Então e os empresários e banqueiros católicos bem sucedidos? O CO2 dos carros de alta cilindrada? Os despedimentos? As “deslocalizações”? Os dividendos? Agora, para chegarem ao topo da carreira da santidade, os ricos vão ter que trazer sempre consigo um padre-assessor que os absolva de cada vez que fazem um negócio.


Manuel António Pina

Jornal de Notícias

14.03.2008

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O que o Manuel António Pina não viu foi, mesmo ao lado do seu artigo, o que escreveu o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga:

"Olho para o mundo da Educação e quero oferecer-lhes esperança, através de educadores sacrificados e generosos que são acompanhados nos seus trabalhos por um estatuto que os dignifique e responsabilize."

Pelos vistos, a Ministra da Educação até é nossa amiga: o que ela quer é levar-nos à santidade através do sacrifício. Qualquer dia, ainda nos obriga a usar cilício. Sempre entraremos no céu mais depressa.

Parece um mundo de loucos!...

2 comentários:

Elsa disse...

Não temos um cilício mas já tenho uma turma de currículos alternativos. Vai dar ao mesmo....

Não doi no corpo, mas doi a alma três dias por semana. Como são malditos esses 90 minutos, onde eu o meu par pedagógicos, temos de carregar uma cruz cravada de espinhos.
Será que conseguimos assim levar a cruz ao calvário (fim do ano entenda-se)?
Estou a "desaprender"...
A vida é dura...
Bjs

Elisabete disse...

Coragem, amiga!
Isto vai mudar.
Pelo menos, eu darei o meu humilde contributo: Não vou deixar a cair Educação no esquecimento.
Beijos