quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Natal 2007 * Ano 2008

A MINHA MENSAGEM DE NATAL

[...]
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

António Gedeão, Poema do Alegre Desespero


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O nosso mundo está a viver, quer queiramos quer não, um período revolucionário da trajectória da Humanidade. Enfrenta, dolorosamente, desafios nunca sonhados. É hora de parar e reflectir.


Independentemente das religiões professadas, a maior parte do mundo ocidental festeja o Natal. Mas o Natal não pode resumir-se aos presentes, às ruas iluminadas, ao bacalhau, às rabanadas e ao bolo-rei... ou a qualquer outra tradição.


Por acaso pensamos no que estamos a festejar? Todos dirão: o nascimento de Jesus Cristo. Só que o nascimento dum homem bom [ou do Filho de Deus, se preferirem ] deve, acima de tudo, levar-nos a reflectir na mensagem que deixou. Longe de estar ultrapassada, ela indica o caminho a seguir, HOJE, se queremos sobreviver no nosso planeta.


Afinal, como têm vivido os homens: uns com os outros ou uns contra os outros?


Começamos por descobrir que as palavras de ordem da sociedade dominante, a sociedade ocidental baseada na competição, conduzem a colectividade humana à catástrofe. O futuro é, hoje, ditado pelos banqueiros. Para resolver os seus problemas, as nossas sociedades recorrem a um processo que crêem mágico: o CRESCIMENTO. Consumamos sempre mais e tudo correrá da melhor maneira. As consequências dessa visão estão debaixo dos nossos olhos: uma Terra maltratada, onde sobressaem graves desequilíbrios ambientais e um esgotamento dos recursos; sociedades profundamente desiguais, ilustrativas da injustiça e da exploração de homens por outros homens.


Jesus Cristo [como mais tarde, Francisco de Assis e também, à sua maneira, os seguidores do Budismo e do Socialismo (o verdadeiro) e muitos outros impossíveis de identificar aqui], ousou dizer não ao dinheiro, ao egoísmo, ao poder, à violência, à guerra; ousou dizer sim ao amor, ao respeito pelo próximo, à ideia de que o Homem habita um Universo comum, que com ele forma um todo e de cuja harmonia depende a sua sobrevivência.


Esta é a preciosa herança que Cristo nos legou. A que talvez valha a pena seguir para bem de nós todos.


Os tempos vão sombrios... O futuro?....... ??????????????


Para todos:

UM BOM NATAL!

UM 2008 MAIS JUSTO E SOLIDÁRIO!



Fonte: Ensaio sobre a Pobreza de Albert Jacquard

sábado, 24 de novembro de 2007

Somos Todos Poucos

O problema da pobreza no Mundo, e especialmente em África, não pode deixar de preocupar quem tem um mínimo de consciência. Critiquei, há dias, o actual Papa por estar demasiado preocupado com os católicos que não participam nos rituais da Igreja e que não cumprem as suas normas, em vez de exigir que os crentes ponham em prática aquele que foi o principal desejo de Jesus Cristo: amar os outros homens, sejam eles quem e como forem.
Embora criada e educada dentro do Catolicismo, considero-me agnóstica. Vejo Cristo como um homem bom e o Cristianismo como uma filosofia de vida. A Igreja Católica, no seu todo, é muito pouco cristã e, por isso, não merece o meu respeito. Tenho de reconhecer, no entanto, porque acima de tudo quero ser justa, que há muitos padres e católicos que dedicam as suas vidas ou que, pelo menos, se preocupam e se disponibilizam na medida das suas possibilidades àqueles que mais precisam, os deserdados desta sociedade egoísta e cruel.
O texto que reproduzo a seguir foi-me enviado por um sobrinho meu, escrito por um católico (não sei se é padre) e creio que publicado na Revista Além-Mar. Estou de acordo com o que diz e penso que todos somos poucos para combater o flagelo da pobreza e da doença em África. Sobretudo, temos de entender que este é um assunto que também nos diz respeito.


















Sinais
Setembro

África nossa


Por: JOSÉ DIAS DA SILVA, Investigador universitário

Temos de começar por ver nos Africanos seres humanos iguais a nós e arrependermo-nos dos muitos pecados que estamos a cometer contra eles.

Dentro deste escândalo inaceitável da pobreza, apareceu uma notícia menos má. As pessoas em situação de miséria baixaram dos mil milhões. Mesmo que esta melhoria não seja uniforme, é um bom incentivo. É bom, contudo, não esquecer que em África a situação continua a ser muito grave.

A conjuntura internacional parece estar a despertar para este continente tão esquecido. Esquecido não só quanto a uma informação verdadeira, mas também esquecido porque não queremos assumir as nossas culpas passadas e presentes. E nestas coisas o esquecimento dá-nos a sensação de bem-estar e uma consciência tranquila.

A primeira atitude que temos de recuperar é que os Africanos são também pessoas, tão pessoas como nós. A cada um deles se aplica, tal como a cada um de nós, a definição do Concílio: «uno de corpo e alma», formado por inteligência, vontade, sabedoria, consciência moral e liberdade. Também eles, tal como cada um de nós, são criados à imagem de Deus, redimidos por Jesus Cristo e chamados à felicidade eterna. Nada nos distingue no que temos de fundamental, nada nos separa quanto ao que constitui a verdadeira essência do ser humano.

Uma segunda atitude, não menos importante, é assumirmos as nossas culpas, muitas e graves, nesta situação de pobreza e subdesenvolvimento que se vive em África. Não se trata só de crimes político-geográficos de um passado colonialista. Temos de olhar para o hoje e interrogarmo-nos sobre que tipo de ajuda demos para que os povos se democratizassem no quadro dos seus valores ancestrais. Quantas políticas destruidoras foram impostas pelos senhores, bem pagos e bem instalados, do FMI ou do Banco Mundial, que nada conheciam da cultura africana, do seu espírito comunitário, da força da sua solidariedade, da sua capacidade de trabalho, do seu amor pela natureza, da sua organização social! Quantas lutas foram incentivadas e estão a ser alimentadas para controlar os seus recursos naturais! Quantos milhões fazem os países do Norte a vender armas, que só terão venda enquanto houver guerras, se estimularem ódios tribais, se apoiarem os senhores da guerra! Há ainda a corrupção, não publicitada, com que compramos os ditadores, também eles mestres da corrupção, depositando nas suas contas privadas centenas de milhões de dólares e permitindo que os seus povos, tão ricos em petróleo, diamantes ou fosfatos, morram de fome, de doenças curáveis, de ignorância. Esta «maldição dos recursos» é estimulada pelos democráticos governantes da Europa e das Américas, mas também por todos nós, que os elegemos e os apoiamos com o nosso silêncio cúmplice, no caso das armas, com o nosso egoísmo individual ou grupal, no caso dos subsídios imorais aos agricultores, com a ignorância dos nossos preconceitos que nos fazem olhar esses povos como geneticamente preguiçosos, amantes dos genocídios e incapazes de se governarem.

Depois temos a roubalheira das ajudas, que João Paulo II classificou de «mecanismos perversos», pois, «manobrados pelos países mais desenvolvidos, favorecem os interesses de quem os manobra, mas acabam por sufocar ou condicionar a economia dos países menos desenvolvidos» (SRS 16), transformando-os em verdadeiras "estruturas de pecado".

Enquanto não nos libertarmos destes dois pecados graves, a ajuda aos Africanos sempre será primeiro que tudo uma ajuda aos nossos interesses mesquinhos. Temos, pois, de começar por ver nos Africanos seres humanos iguais a nós e arrependermo-nos, com propósito firme de emenda, dos muitos pecados que estamos a cometer contra eles.

Só assim, com a alma purificada e a consciência de que somos irmãos e de que «todos somos verdadeiramente responsáveis por todos» (SRS 38) podemos contribuir para que todos em conjunto transformemos a nossa única Terra na aldeia global que ela está chamada a ser, «sem excluir nem privilegiar ninguém» (CA 31).

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A Menina Serena que pensa nos velhos















Velho

Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo,
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado.

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Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava de solidão.
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?

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O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes, eu acho que todos fogem de ti p’ra não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem, como tu,
Um velho sentado num jardim.

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Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
P’ra dares lugar a outro, no teu banco do jardim.

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O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes, eu acho que todos fogem de ti p’ra não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem, como tu,
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem, como tu,
Um velho sentado num jardim.

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Música e letra: Mafalda Veiga

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Era esta a vontade de Jesus Cristo?

Bento XVI e o "raspanete" aos bispos portugueses
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"A Bíblia está cheia de histórias em que o Criador abençoa homens com pouca fé mas muita prática do bem. E a história da Igreja de São Pedro tem muitos episódios de sinal contrário. O que preocupa o Vaticano é o declínio do negócio.
Ratzinger, a quem todos apontam um certo conservadorismo, parece acreditar que a solução passa por um regresso ao passado. Olhará para outras igrejas, e seitas, pensando que o seu relativo sucesso se deve a fundamentalismos.
Acontece que, em matéria de negócios, qualquer 'spin doctor' lhe poderá dizer que o que ele precisa é de adaptar-se ao presente e antecipar o futuro.Para 'salvar' os filhos de Deus - sejam eles católicos, protestantes, judeus ou muçulmanos - não é preciso obrigá-los a ser religiosos. Basta que a religião os ajude a ser racionalmente mais solidários
."
Paulo Baldaia, in "O negócio da fé", "Preto no Branco",
Jornal de Notícias (12.Out.2007)


sábado, 10 de novembro de 2007

Em vez do peixe, dá-lhe a cana!... para que aprenda a pescar.




Há dias em que um simples acaso nos leva a acreditar de novo, nos devolve a fé no ser humano e nos indica o caminho certo e justo.
Por simples acaso passei, hoje, pouco passava do meio-dia, pela RTPN onde se transmitia o programa “Sinais do Tempo”. No meio de tanto lixo televisivo, eis que me foi dado ver, um exemplo do que deve ser um serviço público de televisão.
Soube então que, por exemplo, uma mulher pobre do Uganda pôde desenvolver o seu negócio de manteiga de amendoim artesanal, com a compra dum frigorífico, através da Net, graças a um empréstimo, de menos de 300 dólares, dum cidadão norte-americano.
A organização Kiva (em Swahili =acordo; unidade), põe os pedidos de crédito no site: http://www.kiva.org/ e os financiadores podem emprestar o dinheiro para um dado empreendimento ou contribuindo com pequenas quantias que, somadas, realizarão o total. Não se trata de dar uma esmola, trata-se de financiar, a juros muito baixos ou sem juros, pequenos negócios de pessoas muito pobres, geralmente do Terceiro Mundo, para que possam melhorar as suas vidas e participar no desenvolvimento dos respectivos países.
Todos se lembram de Muhammad Yunus, o economista do Bangladesh que, em 2006, recebeu o Prémio Nobel da Paz, pela criação do Grameen Bank, inventor do microcrédito, que demonstra a grande importância do acesso ao financiamento no combate à pobreza e à exclusão social.
Às vezes, ouvimos falar destas coisas e nem sequer reparamos nos números. Quando, porém, nos apercebemos de que basta qualquer coisa como 250 € para viabilizar um negócio, que vai permitir a alguém viver do seu trabalho com dignidade, coramos de vergonha. Não se trata sequer de “dar a cana”, mas de emprestá-la por um tempo. Pelo que se sabe, até agora, não se registou nenhum caso de financiamento não reembolsado.
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Outro belo exemplo apresentado foi o de um músico paraguaio, oriundo duma família de camponeses pobres e, hoje, maestro da maior orquestra do seu país, que diz só isto: “A vida foi boa para mim. Tenho de retribuir.”
E a forma que encontrou para retribuir foi o seu projecto “Os Sons da Terra”, que se destina à criação de escolas de música, nos bairros mais pobres, onde se ensina também a ser cidadão empenhado e solidário e onde, por vezes, se descobrem grandes talentos. Mudando a vida destas crianças, persegue o sonho dum Mundo melhor e mais belo, onde o nascimento no sítio errado impeça o desenvolvimento das melhores capacidades do ser humano.
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A RTPN proporcionou-me, hoje, um dia mais feliz. Porque me lembrou que ainda há pessoas, genuinamente boas, que conseguem vencer, nelas e em nós, a caridadezinha humilhante e a indiferença que magoa. Afinal, ainda não está tudo perdido... Afinal, ainda há uma réstia de esperança.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

1. Pobreza ameaça a classe média (por Helena Norte)

As famílias atingidas pelo desemprego e endividamento são os novos rostos dos dois milhões de pobres que existem em Portugal. A chamada classe média, esganada pelos créditos ou apanhada nas malhas do desemprego crescente, constitui uma nova forma de pobreza, que desafio os estereótipos associados a esse fenómeno. Hoje, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, milhares de pessoas levantam-se para lembrar. [...]
Ter emprego não significa estar acima do limiar de pobreza. O mito de que só quem não trabalha cai nas malhas da miséria é desmentido pelos números. 14% dos portugueses que trabalham estão em risco de pobreza [...]os novos pobres são aqueles que contraíram créditos ou assumiram responsabilidades financeiras que já não conseguem honrar, seja porque perderam o emprego ou porque o custo de vida está cada vez mais elevado. [...]
Estes novos fenómenos desafiam também as classificações tradicionais de classe média. "Se 20% dos portugueses concentram 80% da riqueza, já não há a chamada classe média", explica o padre Jardim Moreira. As desigualdades sociais, em Portugal, são ainda mais chocantes do que no resto da Europa. [...]
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2. Mas este não é o único dilema que Portugal hoje enfrenta. Atrás de milhões de pobres e de potenciais "remediados" existe uma classe média que sufoca. (por Paulo Pereira de Almeida)
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3. O Diabo dos Números (por Manuel António Pina, Por outras palavras)

Uma das lições de Teplotaxl, o Diabo dos Números de Hans Magnus Enzensberger, é a de que, mais do que para fazer contas, os números servem para pensar. Que pensar então com os números agora anunciados pelo INE, segundo os quais há dois milhões de pobres em Portugal, o que nos coloca no pelotão da frente da vergonha da União Europeia? Mais Portugal é o país da UE onde é maior o fosso entre ricos e pobres, isto é, onde os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres. E os números referem-se a 2005, quando a taxa de desemprego andava na casa dos 7%. Hoje, como se sabe, já vai em 8,3%. Em contrapartida, nos primeiros seis meses deste ano, só o BES, o BCP, o Santander e o BPI lucraram 6,3 milhões de euros por dia, ou seja, cerca de 263,6 mil euros por hora. E, no último ano, as fortunas dos 100 portugueses mais ricos cresceram (os números, agora, são de Fernando Nobre, presidente da AMI) mais um terço. Entretanto, Isabel Jonet, da Federação dos Bancos contra a Fome, fala dos "novos pobres" que todos os anos engrossam o número de portugueses (em 2006 foram 216 mil) que dependem de ajuda alimentar para sobreviver. No meio disto, haverá decerto razões para se festejar outro número, o de 3% de défice. Mas não se justificará algum comedimento nos festejos?

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Pelo menos 3 portugueses denunciam, hoje, no Jornal de Notícias, a situação preocupante de milhões de portugueses. É evidente, que o problema é global. Mas... no espaço europeu (considerado rico), Portugal é, talvez, o país onde o Futuro nos parece mais "sem futuro".
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Albert Jacquard (cientista francês, nascido em Lyon, em 1925), no seu Ensaio sobre a Pobreza, procura algumas explicações para o que está a acontecer à Humanidade. Passo-lhe a palavra:
"Tudo está por saber, no que tem a ver com a forma como vivem os homens: uns com os outros ou uns contra os outros? O estado da nossa Terra não joga a favor da forma de vida que, implicitamente, adoptámos. Começamos a descobrir que as palavras de ordem da sociedade dominante, a sociedade ocidental baseada na competição, conduzem a colectividade humana à catástrofe. [...]
O futuro é hoje ditado pelos banqueiros. Para resolver os seus problemas, as nossas sociedades recorrem a um processo que crêem mágico: o crescimento; consumamos sempre mais e tudo irá da melhor maneira. [...]
Durante muito tempo, foram várias as doutrinas que se afrontaram; hoje, apenas uma parece merecer a aprovação de todos; apresenta-se como sendo científica e desenvolve as consequências de uma "lei" aparentemente tão prenhe quanto a do mundo físico: a "lei do mercado".
O fundamento dessa doutrina é a afirmação de que todo e qualquer bem tem um valor, e que este pode ser medido em função duma unidade monetária. Um quintal de milho, uma hora de prazer ou um rim para transplante podem, por definição, ser tarifados. Estão acessíveis a qualquer um, desde que este o possa pagar, isto é, dispor do dinheiro necessário. Esse dinheiro tornou-se o bem supremo, pois permite obter todos os restantes. [...] A Terra inteira tornou-se uma selva onde a virtude principal é ser-se competitivo, isto é, capaz de se levar a melhor sobre os restantes. Entretanto, essas competições desenfreadas destroem as riquezas não renováveis do planeta; no calor da luta, cada um finge ignorá-lo, urge ganhar, sem o que apenas resta a morte. Vae victis!
Para justificar um mecanismo tão destrutivo como este, o integrismo económico reinante leva a crer que é conforme a uma outra "lei", a da selecção natural. O desaparecimento dos elementos menos capazes duma colectividade, as hipóteses dadas aos que são bem sucedidos seriam a condição do melhoramento da média. [...]
A revolta daqueles que são as vítimas do cilindro compressor económico é asfixiada por um veneno subtil destilado à maneira duma evidência: os perdedores são os verdadeiros culpados da sua desgraça; por natureza ou por ausência de coragem, não fizeram o necessário; não podem culpar se não a si mesmos.
A Humanidade está hoje globalmente integrada e localmente deslocada. Globalmente integrada, porque os efeitos de uma acção num determinado ponto do planeta tem repercussões no destino de todos; esta interdependência é reforçada pela difusão instantânea da informação. Martelada, esta insere cada um numa rede perante a qual é passivo, e confere um poder inaudito aos que dominam as suas fontes. Localmente deslocada devido a essa mesma inserção numa rede planetária de malha Serrada. A pertença a uma Nação, a uma cultura, a uma classe social, não pode mais ser fortemente sentida. As solidariedades induzidas pelas pertenças desmoronam-se; cada um as reivindicava, outrora, como parte so seu ser; não são já se não uma vaga característica administrativa. É a dimensão humana de cada pessoa e de cada grupo, a sua identidade, que desaparece; um vazio separa uns dos outros, aqueles que deveriam antes ser os actores de uma acção comum."
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Se os números "servem para pensar", as palavras dos pensadores servem para reflectir e actuar. Não podemos abdicar de ser actores do nosso destino individual e comum.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

domingo, 30 de setembro de 2007

O FIM



HOMENS DO LARGO

Não interessam frios
Já é hora das Trindades
Tosse ao desafio com os cães
Colado à brancura da parede dos quintais
Inda mal se vê, já aí vem...
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Uma bucha dura, navalhinha de cortar
Venha mais um copo p'ra aquecer
Tem a alma fria de tanto tempo esperar
Lá vem mais um dia
P'ra esquecer...
*******
Sentado num banco espera sempre
O Vento Norte
O Sol-posto dita a sua sorte
Já não espera mágoas, nem dá danos
A ninguém...
Dorme, e já não volta
Amanhã...
*******
Álbum: SUL
Música e letra: VITORINO

segunda-feira, 18 de junho de 2007

O COMEÇO

Pôr-do-Sol


Ao nascer começamos a vida.

Depois... começamos a falar, a andar, a amar.

Um pouco depois... começamos a ler, a escrever, a ter amigos.

Mais tarde... começamos a trabalhar, a ter um companheiro/a, filhos, netos.

Estamos sempre à espera da nova fase. Até à velhice e à morte.

Mas a verdade é que cada dia, cada minuto, é um começo (ou recomeço).

Como alguém disse: "Há apenas dois dias em que não podemos fazer nada: ontem e amanhã."

Como se vê, só podemos fazer coisas hoje. Por isso, é hoje - 18 de Junho de 2007 - que estou aqui a começar este blog.

Um grande dia para todos!