domingo, 7 de dezembro de 2008

NAMORO

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
E com letra bonita eu disse que ela tinha
Um sorriso luminoso tão quente e gaiato
Como o sol de Novembro brincando de artista
Nas acácias floridas
Espalhando diamantes
Na fímbria do mar
E dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia – era sumaúma…
Sua pela macia, da cor do jambo,
Cheirando a rosas, sua pele macia
Guardava as doçuras do corpo rijo
Tão rijo e tão doce – como o maboque…
Seus seios, laranjas – laranjas do Loje
Seus dentes… - marfim…

Mandei-lhe esta carta
E ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
Que o amigo maninho tipografou:
“por ti sofre o meu coração”
Num canto – SIM, noutro canto – NÃO

E ela o canto do NÃO dobrou




Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro…
e ela disse que não

Levei à Avó Chica, quimbanda de fama,
A areia da marca que o seu pé deixou
Para que fizesse um feitiço forte e seguro
Que nela nascesse um amor como o meu…
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica
Ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
Paguei-lhe doces na calçada da Missão.
Ficámos num banco do Largo da Estátua,
Afaguei-lhe as mãos…
Falei-lhe de amor… e ela disse que não.


Andei barbado, sujo e descalço
Como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
“Não viu… (ai, não viu…?) não viu Benjamin?”

E perdido me deram no morro da Samba.


Para me distrair
Levaram-me ao baile do Sô Januário
Mas ela lá estava num canto a rir
Contando o meus caso
Às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram a rumba dancei com ela
E num passo maluco voámos na sala
Qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou:”Aí, Benjamin”
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim

Pedi-lhe um beijo... e ela disse que sim.


Letra: Viriato Cruz
Música: Fausto

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