terça-feira, 9 de setembro de 2008

Para quando?

DISCERNIMENTO
É difícil compreender como alguns homens podem matar ou mandar matar população inocente, com a ideia de que isso servirá os seus interesses e, eventualmente, os interesses da Humanidade. Os ditos terroristas são seres capazes de oferecerem a sua própria vida enquanto espalham o terror, na defesa dos seus ideais.
Parecem considerar-se seres iluminados, conhecedores de algo que a maioria não reconhece e capazes de lutarem pela imposição das suas ideias, como se a interrupção da vida física - dos outros e da sua - seja um mal menor. Por vezes até se animam, construindo no seu imaginário a possibilidade de uma recompensa celestial pelo que consideram ousadia, bravura ou heroicidade.
Em Israel, em Nova Iorque, no Iraque ou em Madrid matam inocentes e mata~m-se, de uma forma aparentemente cega, inabalável e terrivelmente destruidora. Talvez de um modo comparável ao que os Cruzados utilizaram há alguns séculos. Talvez de uma forma menos subtil do que a utilizada ainda nos nossos dias por alguns governantes que mandam despejar bombas ou invadir militarmente países terceiros, mas urdindo uma teia de explicações políticas que possam tornar aparentemente credível tal atitude, ainda que para isso seja necessário utilizar habilmente a mentira, a hipocrisia e outros antivalores.
Em qualquer desses casos esquecendo-se que o ódio gera mais ódio. Não percebendo ou não querendo perceber que a evolução é algo que se conquista e que não resulta impor. Omitindo que a verdadeira evolução se consegue no respeito por todos.

Tal como na escola o aluno só aprende quando se esforça para isso e não quando alguém lhe impõe que tem de saber, também na vida a evolução das pessoas e dos povos só acontece quando aprendem por si próprios e não porque lhes é imposto. Tal como na escola o aluno necessita de ter condições mínimas para aprender (logísticas, pedagógicas, etc.), também na vida as pessoas e os povos necessitam de ter condições mínimas para fazerem a sua própria evolução (sanitárias, económicas, etc.).

Tal como na escola o aprendizado individual não prejudica o colectivo, pelo contrário pode servir de apoio ou incentivo ao aprendizado dos colegas, também na vida a verdadeira evolução individual ou de qualquer grupo só poderá ser a que não prejudica o colectivo, mas, pelo contrário, pode servir de apoio ou de incentivo à evolução de terceiros.

Tal como na escola o professor consegue tão melhores resultados quanto mais conquista a atenção dos alunos e desenvolve neles o prazer de adquirirem conhecimentos pelo seu esforço próprio, também na vida real os grandes líderes se distinguem por conquistarem a atenção dos membros dos seus grupos e de os galvanizarem no sentido de fazerem a sua trajectória evolutiva pelo seu esforço, evitando prejudicar seja quem for.

Enquanto os povos mais abastados e os seus líderes não perceberem a necessidade de reverem o arcaico e injusto sistema de trocas, que permite uma enorme desigualdade de condições com os povos do chamado terceiro mundo, será difícil criar condições de desenvolvimento verdadeiramente sustentável e de evolução pacífica para a Humanidade.

Enquanto os povos mais abastados ignorarem a miséria e a fome que matam milhões de pessoas em certas regiões mais desfavorecidas, não procurando solidariamente conquistar a atenção desses povos para o prazer de construírem um futuro melhor pelo seu próprio esforço, será difícil acabar com ódios e guerras entre seres que se autoproclamam de racionais, mas que demonstram ainda grande dificuldade em raciocinar com discernimento.

Luís Portela, O Prazer de Ser