quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Crise



SIMENON E A CRISE

1. E a crise cresce... Esconder tal realidade é tapar o Sol com uma peneira. O que não ajuda ninguém. E, por sua vez, desde cima, não se resolve nenhum problema. Ou seja: injectar capital público na banca não levará a nada, enquanto o poder de compra do Zé Povinho -a maioria esmagadora dos portugueses- continuar a diminuir. Não me parece matéria reservada aos iluminados (?) da economia –sente-o e reconhece-o cada um na carteira e na barriga. Desespera e esperneia o neoliberalismo e tenta recompor-se, sempre à custa dos mais vulneráveis? Como se comporta este governo socialista ou irá comportar-se, caso ganhe a próxima legislatura (ainda que em maioria relativa, o que não seria negativo)? A espreitar o andar da carruagem e com o bolso a arder, assinalo o “regresso” de um grande escritor, que da condição humana tudo sabia e quase tudo disse: Georges Simenon. O livro, um romance policial: “A Amiga de Madame Maigret” (Asa). O herói, comissário Maigret. O labirinto dos sentimentos e dos conflitos sociais. Assim mesmo. Quem disse que o policial é género menor? Quem nunca leu “A Dama de Branco”, de Wilkie Collins? Hammett? Patricia Highsmith?...
Georges Simenon

2. ... o mágico Simenon que, em duas penadas, nos mergulha num mundo fascinante e nos revela almas? Nos agarra e apaixona. Desvenda os abismos da nossa natureza, os nossos anseios e frustrações –e a poesia da nossa breve caminhada. Houve quem o considerasse o Balzac do século XX. Fixou uma época e, à maneira do mestre oitocentista, descreveu figuras marcantes. Que diria ele deste nosso tempo irresponsável, canibalesco, indecente –em que os empórios se fazem e desfazem sobre cadáveres?


Manuel Poppe, O Outro Lado
Jornal de Notícias [7.Dez.2008]





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