quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ainda actual?...


Cinquenta anos para trás

Somos o que somos por termos sido o que fomos
Eduardo Lourenço
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E fomos coisas espantosas ao longo da nossa história. O que nos tem faltado? Ambição e cultura de rigor e de responsabilidade. O que nos tem sobrado!? Para uns medo do sucesso conquistado com trabalho e seriedade. Para outros, inveja dos que têm sucesso. Para outros ainda, a total falta de oportunidades. Temos um país que, atingindo um nível mais elevado, em vez de continuar a lutar por fazer ainda melhor fica descansado à espera não sei bem de quê. O resultado é evidente. Baixa-se de patamar e gastam-se anos e anos para acordarmos de novo. Só que nessa altura o atraso em relação aos outros países já é enorme e difícil de recuperar. Confesso que por vezes me trespassa um enorme cansaço. Desde pequenito que protesto (defeito meu, talvez), que não me adapto a partidos nem a sindicatos, nem a igrejas, nem à injustiça. Então protesto com a consciência tranquila de quem não se limita a protestar mas indica alternativas.

Protesto contra o facto de haver maternidades sem as condições mínimas estabelecidas pela Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal (CNSMN) e outras maternidades receptoras que não parecem estar a respeitar as regras estabelecidas pela CNSMN.

Claro que há serviços de pseudo-urgências a mais. Era preciso encerrá-los. Mas mais uma vez foi feito o mais fácil. Encerrou-se sem cuidar de observar as condições propostas pela Comissão Técnica Nacional criada para o efeito, deixando as populações sem alternativas e sem explicações. Os resultados estão à vista.

No denominado Centro Hospitalar do Porto (Hospital Stº António, Hospital Maria Pia e Maternidade Júlio Dinis) na área Materno Neonatal e Infantil vão gastar-se milhões para tudo ficar pior. Em relação aos países modernos vamos regredir cerca de cinquenta anos! As crianças vão continuar num hospital de adultos. As grávidas de alto risco saem de um hospital multidisciplinar e vão para uma maternidade monovalente! Precisamente o contrário do que devia ser feito.

Veremos os resultados.

Dizem-me também que as crianças deficientes e com dificuldades de aprendizagem vão deixar de ter apoio de profissionais formados para o efeito (muitos no desemprego). Não quero acreditar que seja verdade. Se é, é muito, mesmo muito mau.

A palavra de ordem parece ser cortar. Cortar em tudo sem serem oferecidas alternativas de qualidade. Segundo se lê nos jornais, parece que só não se corta nas reformas e indemnizações inacreditáveis a alguns gestores. Num país com famílias com uma taxa de endividamento tão alta e um salário tão baixo isto não é justo.

Octávio Cunha (Médico pediatra)
Notícias Magazine [10.Fev.2008]

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