quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009


quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Crise



SIMENON E A CRISE

1. E a crise cresce... Esconder tal realidade é tapar o Sol com uma peneira. O que não ajuda ninguém. E, por sua vez, desde cima, não se resolve nenhum problema. Ou seja: injectar capital público na banca não levará a nada, enquanto o poder de compra do Zé Povinho -a maioria esmagadora dos portugueses- continuar a diminuir. Não me parece matéria reservada aos iluminados (?) da economia –sente-o e reconhece-o cada um na carteira e na barriga. Desespera e esperneia o neoliberalismo e tenta recompor-se, sempre à custa dos mais vulneráveis? Como se comporta este governo socialista ou irá comportar-se, caso ganhe a próxima legislatura (ainda que em maioria relativa, o que não seria negativo)? A espreitar o andar da carruagem e com o bolso a arder, assinalo o “regresso” de um grande escritor, que da condição humana tudo sabia e quase tudo disse: Georges Simenon. O livro, um romance policial: “A Amiga de Madame Maigret” (Asa). O herói, comissário Maigret. O labirinto dos sentimentos e dos conflitos sociais. Assim mesmo. Quem disse que o policial é género menor? Quem nunca leu “A Dama de Branco”, de Wilkie Collins? Hammett? Patricia Highsmith?...
Georges Simenon

2. ... o mágico Simenon que, em duas penadas, nos mergulha num mundo fascinante e nos revela almas? Nos agarra e apaixona. Desvenda os abismos da nossa natureza, os nossos anseios e frustrações –e a poesia da nossa breve caminhada. Houve quem o considerasse o Balzac do século XX. Fixou uma época e, à maneira do mestre oitocentista, descreveu figuras marcantes. Que diria ele deste nosso tempo irresponsável, canibalesco, indecente –em que os empórios se fazem e desfazem sobre cadáveres?


Manuel Poppe, O Outro Lado
Jornal de Notícias [7.Dez.2008]





domingo, 7 de dezembro de 2008

NAMORO

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
E com letra bonita eu disse que ela tinha
Um sorriso luminoso tão quente e gaiato
Como o sol de Novembro brincando de artista
Nas acácias floridas
Espalhando diamantes
Na fímbria do mar
E dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia – era sumaúma…
Sua pela macia, da cor do jambo,
Cheirando a rosas, sua pele macia
Guardava as doçuras do corpo rijo
Tão rijo e tão doce – como o maboque…
Seus seios, laranjas – laranjas do Loje
Seus dentes… - marfim…

Mandei-lhe esta carta
E ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
Que o amigo maninho tipografou:
“por ti sofre o meu coração”
Num canto – SIM, noutro canto – NÃO

E ela o canto do NÃO dobrou




Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro…
e ela disse que não

Levei à Avó Chica, quimbanda de fama,
A areia da marca que o seu pé deixou
Para que fizesse um feitiço forte e seguro
Que nela nascesse um amor como o meu…
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica
Ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
Paguei-lhe doces na calçada da Missão.
Ficámos num banco do Largo da Estátua,
Afaguei-lhe as mãos…
Falei-lhe de amor… e ela disse que não.


Andei barbado, sujo e descalço
Como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
“Não viu… (ai, não viu…?) não viu Benjamin?”

E perdido me deram no morro da Samba.


Para me distrair
Levaram-me ao baile do Sô Januário
Mas ela lá estava num canto a rir
Contando o meus caso
Às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram a rumba dancei com ela
E num passo maluco voámos na sala
Qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou:”Aí, Benjamin”
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim

Pedi-lhe um beijo... e ela disse que sim.


Letra: Viriato Cruz
Música: Fausto

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

VELHOS


Diz que há-de vir
Uma era justa e boa
Em que o valor da pessoa
Se mantém quando envelhece.
Está no trabalho que fez.
Para conseguir uma coisa como esta
Dava o sangue que me resta
E era como se tivesse
Nascido mais uma vez.

Deram-nos este banco de avenida
Onde a sombra nos dói e a tarde gela
E daqui vemos nós passar a vida
Sem que a vida nos sinta perto dela.
Assim nos atiraram para fora
Das coisas que ajudámos a fazer
Ai, como o Sol aquece pouco agora
Ai, muito custa, à noite, adormecer.

Diz que há-de vir, etc.

Fomos pedreiros, varredores, ardinas
Fizemos casas, cultivámos terras,
Criámos gado, entrámos pelas minas
Demos os filhos para as vossas guerras
Demos as filhas para vos servir
Cortámos lenha para a vossa fogueira
E o tempo a ir-se e a gente a pressentir
Que vos demos, sem querer, a vida inteira.

Diz que há-de vir, etc.

E ainda é sangue que nas veias corre
Ainda raiva que nos dobra a mão
Ainda como um sonho que não morre
No nosso velho e atento coração.

Diz que há-de vir, etc.

Afonso Dias